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ALBERTO GUZMAN LOPEZ

( Bolívia  )

Médico. Foi Prefeito de Cochabamba.
Escreve de forma direta, os temas da paisagem e a inquietude social estão presentes em seus poemas não publicados em livro.  Obteve prêmios em concursos.

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL – TEXTO EM PORTUGUÊS

 

BEDREGAL, Yolanda.  Antología de la poesia boliviana. La Paz: Editorial Los Amigos del Libro, 1977.  627 p.  13,5x19 cm. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

CANTO AL VALLE

Yo que siempre fui un hombre
de calcinada tierra
lloviendo por mi sangre
la cenital hoguera de cobre y primavera,
he venido a cantarle al Valle y a la Sierra.

Valle de la simiente
explosión de colores
savia de las mazorcas,

Tu estirpe tiene siglos
de esclavo y de "mitayo"
tratando de asomarse
al destino del hombre.

Canto al valle y su sangre
desde una nueva trilla,
desde una honda pupila de vertical colmena
que signaron de llanto celajes y claveles.

La fragante cosecha
de tus trigales blondos
va digitando un canto
en los viejos arados
como una Eucaristía gloriosa de semillas
o como un Padrenuestro estampado de soles.

Nosotros los Mitayos,
—no importa de que mina—
vivimos en la cóncava
esmeralda del tiempo,
renovando esperanzas no cumplidas ya nunca,
como un olivo estéril que jamás floreciera.

       Mi voz es campesina
—aunque talvez no toda—
para cantar mi valle
del fondo de mi copla;
lasitud de charango tiene la "cacharpaya"
y una embriaguez de besos el triste "pasacalle".

El valle es amplio surco
donde despunta el grano
mientras la "Pacha Mama" roturando la sangre,
es transitar de ceibos, toronjil y verbena.

Valle del Churuquella,
Valle del gran Tunari,
Valle del Moto Méndez,
mi voz tiembla en la herida, sollozando en el trigo,
en vendaval de "Camba" y en huracán de mina…

 

 

TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de ANTONIO MIRANDA

 

CANTO AO VALE

Eu que sempre fui um homem
de calcinada terra
chovendo por meu sangue
a zênite fogueira de cobre e primavera,
vim cantar-lhe ao Vale e à Serra.

Vale da semente
explosão de cores
seiva das espigas,

Tua estirpe vem de séculos
de escravo e de "mitayo"
(*1)
       tratando de inclinar-se
pelo destino do homem.

Canto ao vale e seu sangue
desde uma nova trilha,
desde uma funda pupila de vertical colmeia
que assinaram de pranto nuvens e cravos.

A fragante colheita
de teus trigais louros
vai digitando um canto
nos velhos arados
como uma Eucaristia gloriosa de sementes
ou como um Pai Nosso estampado de sóis.

Nós os Mitayos,
—não importa de que mina—
vivemos na côncava
esmeralda do tempo,
renovando esperanças não cumpridas jamais,
como um oliveira estéril que jamais floresceu.

       Minha voz é camponesa
—embora  talvez nem toda—
para cantar meu vale
do fondo de meus versos;
lassitude de charango tem a "cacharpaya"
(*2)
e uma embriaguez de beijos o triste "pasacalle".
(*3)

O vale é um amplio sulco
onde desponta o grão
enquanto a "Pacha Mama"
(*4) rotulando o sangue,
é transitar de corticeiras, toronjil
(*5) y verbena.

Vale do Churuquella,
Vale do grande Tunari,
Vale de Moto Méndez,
minha voz treme na herida, soluçando no trigo,
em vendaval de "Camba"
(*6) e em furação de mina…

---

*1 A definição de mitayo no dicionário espanhol é índio que nos Estados Unidos deram por lote e repartimiento as cidades para o trabalho. Outro significado de mitayo no dicionário também é indiano que recebeu os lucros da mita.

*2  Festa com a qual que se despede do carnaval.

*3  Composição musical de ritmo muito vivo em que tocam as charangas e bandas de música nas festas populares, geralmente pelas ruas.

*4  A Pachamama, na cultura andina, é considerada mais que uma divindade; ela é a natureza que cria e recria os elementos da vida, e o ser humano é parte integrante dela, merecedora de proteção jurídica.

*5 horta de plantas medicinais, nos oferece menta para preparar receita, ruda para espantar maus espíritos y melissa, entre outras ervas.

*6 Camba - peça curva em que se fixa o dente do arado.

 

*

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Página publicada em julho de 2022


 

 

 
 
 
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